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Este é o meu primeiro livro. Trata da geração de autores que fundou na década de 50 a música de MS.
Estou disponibilizando o livro na íntegra exclusivamente no Overmundo. Espalhem por aí.
Boa leitura!
Depoimento Paulo Simões
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Depoimento Paulo Simões
Divulgação: internet
No final dos anos 50 e início dos 60, Campo Grande limitava-se a três vertentes: música paraguaia e latina nas churrascarias e festas em fazendas e, eventualmente, festas em Campo Grande; grupos de baile que tocavam pout-pourri de tudo e a música sertaneja, que se limitava a alguns programas de rádio ao vivo. E eu ia a Rádio PRI-7.
Churrasco em fazenda/ divulgação:internet
Música paraguaia/divulgação internet
Música paraguaia/divulgação internet
Era um programa dominical. Eu ia à missa cedo para ficar desobrigado e passava na PRI-7 ou Educação Rural. Assisti muitos shows de Délio e Delinha. Devo ter visto Zé Corrêa, mas não lembro.
Délio e Delinha (Casal de Onça do Pantanal e do Mato Grosso do Sul)
Zé Corrêa ( O pioneiro do chamamé em Mato Grosso do Sul e no Brasil)
O rádio era muito importante porque não havia TV. Todo mundo ouvia rádio. Uma das lembranças mais vivas disso era acordar para ir a escola e já se ouvia o rádio em volta. Porque não tinha trânsito, barulho... E eram os programas sertanejos, com Juca Ganso. Eu saía de casa na altura da Avenida Afonso Pena e ia pela Rui Barbosa até o Dom Bosco a pé. Eu ia escutando o rádio.
foto de Juca Ganso
A rua vazia e passava a carroça vendendo leite. Era o ‘streamming radiofônico’ até a escola. Lá dentro que se fechava o canal. E eu ia escutando música sertaneja.
Não sei se os amigos meus prestavam atenção. Eu gostava de ouvir música.
A música sertaneja e paraguaia tem tanta importância no trabalho e na musicalidade dos músicos que foram criados em Campo Grande pelo fato de que quando se escuta música nos primeiros anos de sua vida, você não racionaliza, apenas ouve. É totalmente sensorial e penetra fundo, mesmo sem se saber se esta música é moderna, boa ou ruim...
Pode ser que o patamar esteja diminuindo, certamente está, porque tudo é mais precoce, mas na minha época, até os oito ou nove anos, escutava música como escuta hoje motor. Algo que estava em volta. O que está no cerne da musicalidade é o que se escutou quando criança mais o que se escutou e gostou. Nunca é uma coisa ou outra.
Eu ia ver Délio & Delinha e Amambay & Amambaí porque tinham esta relação de público e palco. Era música ao vivo no formato show. Não era grupo tocando para nego dançar ou comer. Era autoral e aquela coisa com público, palco e aplausos.
Lembro mais dos shows que eu vi na Educação Rural. Na época que era na Rui Barbosa, entre Dom Aquino e Cândido Mariano, na Casa do Bispo, que era grande e a rádio funcionou lá uma época. Tinha um auditoriozinho. E também tinha o auditório da PRI-7, que era na Calógeras.
Depoimento de Juca Ganso sobre assassinato de Zé Corrêa
Uma das poucas pessoas que estavam na sede da Educação Rural quando aconteceu o assassinato de Zé Corrêa era o seu amigo e parceiro profissional Juca Ganso. O locutor Carlos Achucarro, naquele ano de 1974, era com certeza uma unanimidade e o radialista mais famoso do Sul de Mato Grosso.
O programa ‘A Hora do Fazendeiro’, que estreou em 1965, era o principal meio de comunicação da população do Estado, em especial a envolvida com fazendas. Ou seja, a maioria.
Seu bordão, ‘quem ouvir, por favor avisar’ se tornou um clássico radiofônico regional. Juca explicou que já fazia um programa com Zé Corrêa antes de haver o ‘entreveiro’ trágico de 1971 envolvendo o cunhado do músico. E que só quando o sanfoneiro foi considerado inocente pela Justiça que decidiu ir na rádio anunciar a decisão judicial que se arrastava desde 1971. Ele próprio avisou que o programa ao lado de Juca Ganso seria em uma terça-feira, que acabou sendo o dia de sua morte. O radialista relembra algumas passagens com o amigo e o dia fatídico, em que ele estava esperando por Zé Corrêa para o retorno do, naquele momento, maior astro da música sul-mato-grossense, aos 29 anos.
Juca Ganso: Ele ficava na casa dos tios dele na Av. Mato Grosso, que tinha ‘gordurami’. Ele ficava escondido lá. Eu, Ado, Amambay e Amambaí, a turma do sertanejo, ia tocar violão, cantar e biritar com ele. Depois o Zé Corrêa se mandou. Uma noite eu estava aqui em casa e veio o Amambay e Amambaí dizendo que tinha um camarada na caminhonete que queria me conhecer. Eu disse que era para chamar a pessoa para entrar, mas pediram para eu ir lá porque ele não iria sair do carro. Fui lá fora, chego e era o cara do volante. Falei que não conhecia. O cara era cabeludo e estava olhando para frente. Insisti que não conhecia e o cara virou e falou: ‘Não me conhece não seu...’ e disse aquele palavrão. Era o Zé Corrêa de peruca. “Rapaz o que você está fazendo aqui? Você é de lascar o crânio!”. E ele: “Tem que andar né Juca!”. Esta foi uma das passagens dele comigo.
Passou um tempo e o advogado dele era o Doutor Nelson Trad. Checaram a situação e deram o habeas corpus dele no processo que corria e que tinha causado toda a encrenca. O Zé Corrêa ficou muito eufórico porque tinha sido considerado inocente. Ele foi na Rádio Educação Rural e anunciou no microfone que o ‘Doutor Nelson Trad tinha liberado’ e ele ‘estava livre’. E anunciou que iria voltar na próxima quarta com o ‘Programa Zé Corrêa e Seus Grandes Sucessos’. Este programa eu e ele fazíamos juntos antes dele ter o ‘problema’. Ia sempre também o Amambay & Amambaí.
Eu iria apresentar o programa da volta dele. Era uma quarta-feira de abril de 1974 e a rádio anunciando que ‘hoje às 20 horas apresentação do Programa Zé Corrêa ao vivo’. E ele foi para casa de umas amigas lá no alto da Rua 26 de Agosto. Ele estava eufórico e chamando as meninas para irem juntas para o programa. Elas não quiseram, falando que iam escutar de casa mesmo e tal.
O Zé Corrêa chegou e encostou no portão da Rádio Educação Rural, que ficava na Mário Pinto Peixoto, uma rua estreita e escura e tinha uma máquina de arroz, Rincão, na esquina. Eu já estava lá na rádio desde antes. Aos 18h, eu tinha apresentado o programa de variados sertanejos e tal.
Estava eu, o recepcionista da noite, o saudoso Délio Nascimento e um amigo de Brasília que tinha ido me visitar. Eu estava fazendo o programa até chegar a hora do Zé. Fazia os comerciais, chamava as músicas e ia bater papo com meu amigo. E o pessoal da rádio conversando na portaria, contando piada e nem imaginando o que iria acontecer.
Um cara chapeludo chegou na rádio e pediu a caixinha de perdidos e ficou procurando documento. Só tinha duas residências na rua. Um fazendeiro que morava na frente e o vizinho do lado, o Seu Barreto. Ficou um homem em frente da casa do fazendeiro, outro na árvore em frente da rádio, outro na porta e o outro lá dentro procurando documento. Já estava tudo armado e sem ninguém sonhar com nada.
Umas quinze para as oito o Zé Corrêa chegou. Ele encostou o carro e parou no portão grande que pertencia ao quintal da máquina de arroz. Não deu tempo nem dele descer do carro. Eu estava com o amigo, Afonso. E a ‘pipoca’ comeu. Perguntei o que era pro meu amigo e ele: ‘Acho que é bala Juca’. Fomos para um estudiozinho lá dentro e era bala mesmo. Acabaram os tiros e veio um barulho de motor que arrancou. Era uma caminhonete C-10 cheinha de bandido. Deixaram o carro do Zé como se tivessem atirado de metralhadora. Todo mundo foi saindo devagarinho e veio o senhor do açougue da 14 de Julho e me disse: ‘Você viu quem que é?‘. ‘Quem?’. “Zé Corrêa!’. ‘Quê?’ Fui no carro e estava tão escuro que ele riscou um fósforo para eu ver que era o Zé mesmo. Ele estava caído entre o meio fio e o carro.
Estava eu e o Ciro Nascimento. Ele chamou a rádio patrulha pelo ar. ‘Estamos chamando a rádio patrulha com urgência na Rádio Educação Rural, houve um crime aqui na frente agora’. Não falou que era o Zé, mas daqui a pouco já tinha muita gente em frente a rádio. Eu fiquei transtornado. Não sabia o que fazia.
Veio ambulância e levou o corpo para a Santa Casa. Já estava morto. Eu peguei a ‘magrelha’ e fui a Faculdade Dom Bosco, onde o Doutor Airton Guerra, nosso diretor, estava fazendo Direito. Eu disse: ‘Mataram o Zé Corrêa na frente da rádio. Vim saber o que a gente faz. Tira do ar a rádio?’ E ele. ‘Não. Coloca só música e continua amanhã normal’. Foi uma das minhas passagens mais dramáticas no rádio.
VERSÃO INTEGRAL NO PDF
Seu bordão, ‘quem ouvir, por favor avisar’ se tornou um clássico radiofônico regional. Juca explicou que já fazia um programa com Zé Corrêa antes de haver o ‘entreveiro’ trágico de 1971 envolvendo o cunhado do músico. E que só quando o sanfoneiro foi considerado inocente pela Justiça que decidiu ir na rádio anunciar a decisão judicial que se arrastava desde 1971. Ele próprio avisou que o programa ao lado de Juca Ganso seria em uma terça-feira, que acabou sendo o dia de sua morte. O radialista relembra algumas passagens com o amigo e o dia fatídico, em que ele estava esperando por Zé Corrêa para o retorno do, naquele momento, maior astro da música sul-mato-grossense, aos 29 anos.
Juca Ganso: Ele ficava na casa dos tios dele na Av. Mato Grosso, que tinha ‘gordurami’. Ele ficava escondido lá. Eu, Ado, Amambay e Amambaí, a turma do sertanejo, ia tocar violão, cantar e biritar com ele. Depois o Zé Corrêa se mandou. Uma noite eu estava aqui em casa e veio o Amambay e Amambaí dizendo que tinha um camarada na caminhonete que queria me conhecer. Eu disse que era para chamar a pessoa para entrar, mas pediram para eu ir lá porque ele não iria sair do carro. Fui lá fora, chego e era o cara do volante. Falei que não conhecia. O cara era cabeludo e estava olhando para frente. Insisti que não conhecia e o cara virou e falou: ‘Não me conhece não seu...’ e disse aquele palavrão. Era o Zé Corrêa de peruca. “Rapaz o que você está fazendo aqui? Você é de lascar o crânio!”. E ele: “Tem que andar né Juca!”. Esta foi uma das passagens dele comigo.
Passou um tempo e o advogado dele era o Doutor Nelson Trad. Checaram a situação e deram o habeas corpus dele no processo que corria e que tinha causado toda a encrenca. O Zé Corrêa ficou muito eufórico porque tinha sido considerado inocente. Ele foi na Rádio Educação Rural e anunciou no microfone que o ‘Doutor Nelson Trad tinha liberado’ e ele ‘estava livre’. E anunciou que iria voltar na próxima quarta com o ‘Programa Zé Corrêa e Seus Grandes Sucessos’. Este programa eu e ele fazíamos juntos antes dele ter o ‘problema’. Ia sempre também o Amambay & Amambaí.
Eu iria apresentar o programa da volta dele. Era uma quarta-feira de abril de 1974 e a rádio anunciando que ‘hoje às 20 horas apresentação do Programa Zé Corrêa ao vivo’. E ele foi para casa de umas amigas lá no alto da Rua 26 de Agosto. Ele estava eufórico e chamando as meninas para irem juntas para o programa. Elas não quiseram, falando que iam escutar de casa mesmo e tal.
O Zé Corrêa chegou e encostou no portão da Rádio Educação Rural, que ficava na Mário Pinto Peixoto, uma rua estreita e escura e tinha uma máquina de arroz, Rincão, na esquina. Eu já estava lá na rádio desde antes. Aos 18h, eu tinha apresentado o programa de variados sertanejos e tal.
Estava eu, o recepcionista da noite, o saudoso Délio Nascimento e um amigo de Brasília que tinha ido me visitar. Eu estava fazendo o programa até chegar a hora do Zé. Fazia os comerciais, chamava as músicas e ia bater papo com meu amigo. E o pessoal da rádio conversando na portaria, contando piada e nem imaginando o que iria acontecer.
Um cara chapeludo chegou na rádio e pediu a caixinha de perdidos e ficou procurando documento. Só tinha duas residências na rua. Um fazendeiro que morava na frente e o vizinho do lado, o Seu Barreto. Ficou um homem em frente da casa do fazendeiro, outro na árvore em frente da rádio, outro na porta e o outro lá dentro procurando documento. Já estava tudo armado e sem ninguém sonhar com nada.
Umas quinze para as oito o Zé Corrêa chegou. Ele encostou o carro e parou no portão grande que pertencia ao quintal da máquina de arroz. Não deu tempo nem dele descer do carro. Eu estava com o amigo, Afonso. E a ‘pipoca’ comeu. Perguntei o que era pro meu amigo e ele: ‘Acho que é bala Juca’. Fomos para um estudiozinho lá dentro e era bala mesmo. Acabaram os tiros e veio um barulho de motor que arrancou. Era uma caminhonete C-10 cheinha de bandido. Deixaram o carro do Zé como se tivessem atirado de metralhadora. Todo mundo foi saindo devagarinho e veio o senhor do açougue da 14 de Julho e me disse: ‘Você viu quem que é?‘. ‘Quem?’. “Zé Corrêa!’. ‘Quê?’ Fui no carro e estava tão escuro que ele riscou um fósforo para eu ver que era o Zé mesmo. Ele estava caído entre o meio fio e o carro.
Estava eu e o Ciro Nascimento. Ele chamou a rádio patrulha pelo ar. ‘Estamos chamando a rádio patrulha com urgência na Rádio Educação Rural, houve um crime aqui na frente agora’. Não falou que era o Zé, mas daqui a pouco já tinha muita gente em frente a rádio. Eu fiquei transtornado. Não sabia o que fazia.
Veio ambulância e levou o corpo para a Santa Casa. Já estava morto. Eu peguei a ‘magrelha’ e fui a Faculdade Dom Bosco, onde o Doutor Airton Guerra, nosso diretor, estava fazendo Direito. Eu disse: ‘Mataram o Zé Corrêa na frente da rádio. Vim saber o que a gente faz. Tira do ar a rádio?’ E ele. ‘Não. Coloca só música e continua amanhã normal’. Foi uma das minhas passagens mais dramáticas no rádio.
VERSÃO INTEGRAL NO PDF
Sobre a obra
‘Os Pioneiros – A Origem da Música Sertaneja de MS’ enfoca a primeira leva de compositores do Sul de Mato Grosso. O livro trata de artistas que, a partir da década de 50, deram os primeiros passos para criar a música sul-mato-grosssense.
O autor Rodrigo Teixeira entrevistou os protagonistas desta história, reuniu dezenas de fotografias e organizou uma discografia com mais de 100 discos. ‘Os Pioneiros’ é um mergulho na gênese da história da música de Mato Grosso do Sul!
Donos de uma obra extensa e que necessita de um estudo mais detalhado de análise musical, Délio e Delinha, Zacarias Mourão, Amambay e Amambaí, Zé Corrêa, Beth e Betinha, Jandira e Benites, Maciel Corrêa, Adail e Tesouro, Ado e Adail, Tostão e Guarany, Aurélio Miranda e Victor Hugo de La Sierra foram alguns dos artistas que ajudaram a transformar o Mato Grosso do Sul em um celeiro de talentos musicais de primeira...
O autor Rodrigo Teixeira entrevistou os protagonistas desta história, reuniu dezenas de fotografias e organizou uma discografia com mais de 100 discos. ‘Os Pioneiros’ é um mergulho na gênese da história da música de Mato Grosso do Sul!
Donos de uma obra extensa e que necessita de um estudo mais detalhado de análise musical, Délio e Delinha, Zacarias Mourão, Amambay e Amambaí, Zé Corrêa, Beth e Betinha, Jandira e Benites, Maciel Corrêa, Adail e Tesouro, Ado e Adail, Tostão e Guarany, Aurélio Miranda e Victor Hugo de La Sierra foram alguns dos artistas que ajudaram a transformar o Mato Grosso do Sul em um celeiro de talentos musicais de primeira...
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